
Sexto Relatório de Avaliação (AR6) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)
O Sexto Relatório de Avaliação (AR6) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), publicado entre 2021 e 2023, representa a análise científica mais robusta e abrangente já realizada sobre o estado atual das mudanças climáticas. Produzido por centenas de cientistas de diferentes países e aprovado por 195 governos, o AR6 reforça de maneira inequívoca que o aquecimento global é causado pelas atividades humanas, em especial pela queima de combustíveis fósseis, o desmatamento e práticas insustentáveis de uso da terra. O relatório aponta que a temperatura média global já aumentou cerca de 1,1°C em comparação ao período pré-industrial, intensificando de forma preocupante os eventos climáticos extremos, como ondas de calor, secas prolongadas, inundações devastadoras, incêndios florestais e ciclones tropicais mais intensos.
Esses eventos, antes considerados excepcionais, estão se tornando mais frequentes e severos em todas as regiões do planeta, gerando impactos diretos na saúde humana, segurança alimentar, abastecimento de água, infraestrutura urbana e equilíbrio dos ecossistemas. O AR6 destaca que os riscos climáticos são maiores do que se estimava anteriormente, e que as populações mais vulneráveis — especialmente nos países em desenvolvimento — são desproporcionalmente afetadas, mesmo sendo as que menos contribuíram para a crise climática. A justiça climática, portanto, aparece como um princípio ético essencial para guiar a ação global.
O relatório também deixa claro que ainda é possível limitar o aquecimento global a 1,5°C, conforme estabelecido no Acordo de Paris, mas que o tempo para isso está se esgotando rapidamente. Para manter essa meta viável, seria necessário reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa em pelo menos 43% até 2030, e atingir emissões líquidas zero por volta de 2050. Esse desafio exige transformações profundas em setores como energia, transporte, agricultura, indústria e uso da terra, com foco em tecnologias limpas, eficiência energética, restauração de ecossistemas e mudanças de comportamento em escala coletiva.
Outro ponto enfatizado pelo AR6 é a urgência de integrar ações de mitigação (redução de emissões) com medidas de adaptação, ou seja, com estratégias para lidar com os impactos já em curso. Isso inclui investimentos em infraestrutura resiliente, fortalecimento de sistemas de alerta precoce, gestão sustentável de recursos naturais e financiamento climático para países mais vulneráveis. A lacuna entre as promessas climáticas (as chamadas NDCs) e as ações efetivas ainda é profunda, e o relatório alerta que as decisões tomadas nesta década serão determinantes para o futuro da vida na Terra.
O AR6 serviu como base científica essencial para importantes negociações internacionais, como a COP26 (Glasgow, 2021), a COP27 (Egito, 2022) e a COP28 (Dubai, 2023), além de mobilizar governos, sociedade civil, setor privado e juventudes ao redor do mundo. Em um momento crítico da história, o IPCC lembra que cada fração de grau importa, e que as escolhas atuais moldarão o futuro das próximas gerações.
Referências:
IPCC (2021–2023). Sixth Assessment Report (AR6). Disponível em: https://www.ipcc.ch/assessment-report/ar6/ ;
IPCC (2021). Climate Change 2021: The Physical Science Basis. Disponível em: https://www.ipcc.ch/report/ar6/wg1/ ;
IPCC (2022). Climate Change 2022: Impacts, Adaptation and Vulnerability. Disponível em: https://www.ipcc.ch/report/ar6/wg2/ ;
IPCC (2022). Mitigation of Climate Change. Disponível em: https://www.ipcc.ch/report/ar6/wg3/ ;
IPCC (2023). Synthesis Report of the IPCC Sixth Assessment Report. Disponível em: https://www.ipcc.ch/report/ar6/syr/