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Relatório Especial sobre o Aquecimento Global de 1,5°C (SR1.5)

Em outubro de 2018, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) publicou o Relatório Especial sobre o Aquecimento Global de 1,5°C (SR1.5), a pedido da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) no contexto do Acordo de Paris. O documento teve como objetivo principal analisar os impactos de um aquecimento global de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais e comparar esses efeitos com os de um aquecimento de 2°C, trazendo também caminhos possíveis para limitar o aumento da temperatura média global.


O relatório foi preparado por 91 autores de 40 países, com base em mais de 6.000 estudos científicos, e aprovado por 195 governos. Sua divulgação foi considerada um marco no debate climático global e teve forte influência sobre os rumos da COP 24, realizada em Katowice, na Polônia, no mesmo ano.


Entre as conclusões mais impactantes, o IPCC alertou que limitar o aquecimento global a 1,5°C não é impossível, mas exige “mudanças rápidas, de longo alcance e sem precedentes” em todos os setores da sociedade — incluindo energia, transportes, indústria, agricultura, construção civil e uso da terra. Segundo o relatório, as emissões líquidas globais de CO₂ precisariam cair cerca de 45% até 2030 (em relação aos níveis de 2010) e atingir emissões líquidas zero até 2050.


O relatório também destacou que os riscos climáticos são significativamente menores com 1,5°C de aquecimento em comparação a 2°C. Por exemplo, limitar o aquecimento a 1,5°C reduziria em até 50% o risco de extinção de espécies, a perda de recifes de corais (que seriam quase totalmente eliminados com 2°C) e os impactos sobre a saúde, segurança alimentar, recursos hídricos e crescimento econômico, especialmente em países em desenvolvimento.


Além disso, o relatório reforçou o papel da justiça climática, reconhecendo que os impactos da mudança do clima não são distribuídos de maneira igualitária e que limitar o aquecimento a 1,5°C seria particularmente benéfico para as populações mais vulneráveis, como as comunidades indígenas, os pequenos Estados insulares e as populações pobres urbanas.


O SR1.5 serviu como base científica central das negociações da COP 24, pressionando os países a aumentarem a ambição de suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e a finalizarem o chamado “livro de regras” do Acordo de Paris. Diversos países, organizações da sociedade civil e cientistas usaram o relatório como referência para exigir maior urgência nas políticas de mitigação e adaptação.


Apesar de sua clareza e urgência, o relatório enfrentou resistência de alguns países produtores de combustíveis fósseis, como os Estados Unidos, Arábia Saudita e Rússia, que minimizaram suas conclusões durante as negociações da COP 24. Ainda assim, o consenso científico do IPCC permaneceu firme e estabeleceu um novo patamar para o debate internacional sobre os limites do aquecimento global.



Referências:

IPCC. (2018). Global Warming of 1.5°C. An IPCC Special Report. Disponível em: https://www.ipcc.ch/sr15/ ;

UNFCCC. (2018). “IPCC Report a Wake-Up Call for Greater Climate Action”;

Observatório do Clima. (2018). “Relatório do IPCC mostra que é preciso agir já para limitar aquecimento a 1,5°C”;

WMO. (2018). “IPCC Special Report on Global Warming of 1.5°C approved by governments”;

Nature. (2018). “UN Climate Science Panel Urges Deep Emissions Cuts to Limit Global Warming”

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